Posso dizer que já fiz grandes amizades aqui em Singapura.
Um deles é
um italiano. Um especialista em sua área, com muita experiência em gestão de
projetos e em produtos relacionados em conservação de energia.
Ultimamente
estamos trabalhando e dividindo a responsabilidade por conduzir treinamentos e
desenvolver negócios. Então, pelo grande tempo entre aeroporto, avião, clientes
e hotel, foi fácil sair dos assuntos profissionais e entrar na vida privada - filhos,
futuro profissional, churrascos em conjunto com as famílias, etc.
Por ser um
habilidoso gerente de projetos ele tem algumas características pertinentes a
essa função: sistemático, analítico e adora fazer projeções de riscos. Com tal
perfil, para quem não o conhece bem, é fácil julgá-lo como uma pessoa
complicada e pessimista.
Aí eu uso
isso a meu favor para fazer piadas e tiradas irônicas. Então é comum eu dizer a
ele coisas do tipo: “você é muito ranzinza”; “Só reclama e coloca defeito onde não
tem”; “Putz cara pessimista”; “Olha aí, já vem vindo uma nuvem negra atrás de você”;
etc.
A coisa se
amplificou há alguns meses atrás quando roubaram o Iphone dele num
estacionamento de um hospital de Singapura.
Ele foi
acompanhar o filho pequeno numa consulta de rotina a um pediatra, ele esqueceu
o aparelho dentro do automóvel e ocorreu o furto.
Foi tão
inédito este evento que o pessoal da empresa ficou tirando o sarro dele por um
bom par de semanas. Explico: o nível de crime é tão baixo em Singapura, que o
pessoal daqui achou isso um absurdo, chegando ate a questioná-lo se ele
realmente tinha sido roubado. Alguns insistiram para ele procurar pelo telefone
no hospital ou na casa dele. Outros como eu, ficávamos enchendo o saco dele que
ele seria a inspiração para os próximos episódios do "CSI" Singapura, ou do "Law
and Order". Ou então que ele iria receber um premio do governo de Singapura, por
ter sido a primeira pessoa daqui a ser roubada. Coisas desse tipo...
Outro fato
do “ineditismo” do furto foi que este tipo de coisa não é muito comum por aqui.
De tão incomum a polícia fica perdida e muitas vezes não sabe o que fazer.
Quando esse
meu amigo foi dar queixa na policia, ele chegou a mostrar aos policiais que o
aparelho possuía um aplicativo que possibilitava a localização do Iphone, com
certa precisão. Ele conseguiu monitorar o Iphone utilizando outro aparelho
similar da esposa. Mesmo mostrando que o celular estava já há alguns
quilômetros de distancia, os policiais insistiram na hipótese de procurar o
aparelho primeiro, e eles foram pessoalmente vasculhar o carro do italiano. Resultado:
o celular foi parar na Malásia.
Enfim, o “nuvem
negra” ficou muito bravo.
Na ultima
vez que viajamos, antes da viagem, eu brinquei com ele que era preocupante seguir
no mesmo avião, pois ele trazia muito azar.
Depois
desse meu comentário uma serie de eventos se desencadeou, dando-me mais e mais munição.
Parece brincadeira:
Primeiro: Tomamos
o primeiro avião da manha. Sai as 6 horas da matina. Ele perdeu a hora de
acordar. Não conseguiu tomar café da manha e teve que sair correndo com seu
próprio carro, pois já não daria mais tempo em tomar um táxi. Ao final foi
obrigado e deixar o carro no estacionamento do aeroporto por 3 dias. O detalhe é
que estacionamento custa uma fortuna.
Segundo:
Correu para não perder o limite para check-in. Ao chegar no aeroporto, foi
informado que o vôo estava 45 minutos atrasado. Tempo mais que suficiente para
ele ter ido de táxi.
Terceiro:
Nessa correria todo ele se esqueceu de trazer dinheiro e escova de dente;
Quarto:
Tomamos o vôo e ao aterrisarmos a mala dele havia ficado em Singapura. A mala
chegou num outro vôo, depois de 8 horas.
Quinto: Ao
chegar ao hotel que iríamos ficar hospedado, por equivoco do pessoal local que se
confundiu com as datas da nossa viagem, não havia reservas e quartos
disponíveis e tivemos que procurar outro hotel para dormir
Sexto: Retornamos
sem maiores problemas. Ao chegar a Singapura ele me perguntou se queria uma
carona para casa, pois ele estava com o carro no estacionamento do aeroporto.
Aceitei. O problema é que o aeroporto possui seis diferentes estacionamentos, e
por estar atrasado no primeiro dia da viagem, acabou se esquecendo de anotar
onde havia deixado o veiculo. Depois de quase uma hora de busca, encontramos o
carro.
Sétimo:
Todos os carros de Singapura carregam um dispositivo eletrônico, que funciona
como um “Sem Parar” - Aqui os pedágios e estacionamentos são pagos via este
dispositivo automaticamente. Não se toca em dinheiro. A diferença é que você
tem que inserir um cartão pré-pago. Ou seja, o motorista tem que prestar
atenção quanto aos créditos carregados, pois a multa é salgada se você circular
com o carro sem crédito - Ao tentar sair do estacionamento, fomos para a
cancela e a mesma não se abriu, pois mostrou saldo insuficiente no cartão pré-pago
dele.
E lá foi
ele voltar para o estacionamento novamente para encontrar um caixa eletrônico para
recarregar os créditos novamente. Depois de quase 30 minutos conseguimos
encerrar a jornada e a semana.
Só sei que depois
dessa viagem, consegui mais uns 3 meses de munição para aporrinhar o italiano.