As viagens para a Índia permitem
aprofundar, paulatinamente, na cultura indiana. Aprofundar é uma palavra um
tanto presunçosa. Acho que nem os indianos compreendem a cultura daqui.
Para começar, a Índia é uma nação
tão grande quanto o Brasil. O país é divido em estados e cada um desses estados
possui uma língua própria.
Imagine a situação: uma pessoa
indiana que mora no Norte do país, não consegue se comunicar com alguém que
more no Sul do país.
São 28 estados e mais de 300 línguas
diferentes – esse numero varia de pessoa para pessoa que me explica (hehehe) - sem
falar nas dezenas de religiões que convivem pacificamente. E eles se orgulham
muito disso.
A escolha da língua não é compulsória.
Faz-se a opção na escola fundamental. Embora a língua oficial divulgada seja o
hindi, ela não é tão difundida. O governo tenta fazer sua parte, mas os
indianos são bem enraizados nos costumes e tradições, tornando uma mudança
praticamente uma missão impossível.
É mentira que todo indiano fala
inglês. É verdade que, no mundo dos negócios, todo indiano fala inglês.
O motivo disso é fácil de explicar:
nas universidades a língua padrão, na sala de aula e nos livros, é o inglês.
Alem disso, na época da dominação britânica, falar inglês era considerado como
privilegio e possui forte conotação social.
Imaginem a seguinte operação
matemática. No Brasil, apenas 10% da população freqüenta a faculdade (esse percentual
é um chute meu, pois não faço a real idéia do valor real). Então, somente 10%
da população falariam inglês. O mesmo se dá na Índia. Imaginemos que 10% da
população freqüentaram ou freqüentam universidades, daí tira-se a quantidade de
pessoas que dominam a língua.
A única diferença é que 10% de 1,5
Bilhões de pessoas é quase a população do Brasil inteirinha. Logo, torna-se
muito fácil a comunicação em inglês nas cidades grandes, indústrias, grandes
comércios e aeroportos.
Entretanto, quando se viaja para o
interior, zonas afastadas das grandes cidades, já fica mais complicado.
Assim como no Brasil, não?
Outra estatística para demonstrar a
forca desse país: todo o ano o numero de engenheiros que são concluem o curso,
é maior que o total de números de engenheiros existentes no Brasil. Incrível,
não?
Não é a toa que os engenheiros daqui
servem de mão de obra para empresas na Austrália, Oriente Médio, Singapura,
paises africanos e Estados Unidos. Principalmente na área de TI – tecnologia da
informação. Área que os indianos são considerados como os bambambans.
Neste momento estou no norte da
Índia, no estado de Punjab.
Punjab é um dos estados mais
importantes e ricos da Índia. O nome significa lugar dos cinco rios, e faz do
estado um lugar com bastante água e com terras generosas para a agricultura
(frutas, arroz, grãos, algodão). Muitas indústrias têxteis e de maquinas.
Enquanto no Sul da Índia as pessoas
possuem a tonalidade da pele mais escura - quase negra, marrom - aqui as
pessoas são mais parecidas com caucasianos – pele branca, alguns com olhos claros.
O povo indiano é muito pacífico e
manso, principalmente os do sul. Já no norte percebe-se uma característica mais
agressiva e dinâmica.
Talvez haja uma explicação para
isso. O clima pode ser um deles. O Sul seria como o nosso Nordeste – quente o
ano inteiro. O Norte, de clima temperado, possui altas temperaturas no verão, e
temperaturas negativas no inverno, com as quatro estações do ano bem definidas.
Talvez outro fator para explicar
isso, historicamente o norte da Índia é a casa de uma raça chamada Sikhs.
Segunda eles contam aqui, muito
tempo atrás (muito mesmo), a Índia era constantemente invadida por Muçulmanos, Chineses,
Persas, Mongóis, Corinthianos, MST, etc.
Para tentar proteger as vastas
fronteiras e territórios do Norte, o governo selecionou um grupo de fortes
guerreiros a habitar a região.
Por serem caucasianos, fortes, mais
altos e de melhor porte para o combate, que o tradicional indiano, consolidou-se
uma nova “raça” e obtiveram o direito de possuir um distinto nível de status
social e religioso.
Até hoje os Sikhs são diferenciados do
restante dos Hindus. Seja na língua, na religião, nos negócios ou no nome.
Alias, Sikh significa aquele que
aprende, que recebe instrução. Algumas fotos:
Os Sikhs possuem religião própria,
um livro sagrado de mais de 3 mil anos, nunca cortam o cabelo e a barba, usam
turbantes. Tradicionalmente carregam um pequeno sabre (do tamanho de uma faca)
e utilizam uma pulseira no braço esquerdo de prata (como se fosse uma argola
metálica).
Ontem fui jantar com um colega
daqui, que é Sikh, junto com sua esposa. Acabei descobrindo outra curiosidade.
Antes de o nosso Eduardo ser
“batizado” de Eduardo, eu e a Rosangela passamos dias debatendo sobre um nome –
esse historia vocês já devem ter lido.
Na religião e cultura Sikh, assim
que a criança é parida, os pais não podem escolher o nome. Funciona assim:
Durante a gravidez, por lei, não é
permitido saber o sexo do bebê. Isto tem explicação cultural, pois na Índia há
muitos casos de aborto. Há pais que quando sabem que a criança que esta sendo
gerado é uma menina cometem o crime – pois a preferência é de um menino.
Portanto, somente se sabe se você possui um filho ou uma filha no ato do
nascimento.
Assim que a criança chega ao mundo
os pais precisam aguardar, se não estou equivocado, 13 dias. Após esse período
de espera levam-na a igreja e o padre abençoa o novo ser. Nessa cerimônia, com
o livro sagrado Sikh, o padre o abre numa pagina aleatória (sorte). A primeira
letra desta pagina será a primeira letra do nome da criança.
Portanto, antes da cerimônia, os
pais precisam fazer uma lista de nomes com todas as letras do alfabeto. De A a
Z.
Para quem achou engraçado ou ficou
intrigado com a nossa demora, imaginem se eu fosse Sikh?
Abaixo algumas fotos de Barnala - Punjab
Mercado aberto, no meio da rua e da chuva:
Muito comum encontrar ambulantes vendendo comida (fast food).
Dá para ter
uma noção da higiene. Para começar eles não sabem o que é lavar as mãos antes
de comer. Muito menos para servir algum cliente na rua.
Estive num
lugar que ao se pedir algo, um salgadinho, por exemplo, o rapaz apanhou a
comida com a mão, entregou para o comprador, e depois pegou o dinheiro e o
troco. Em seguida atendeu outro cliente. Outro salgado, outra pessoa, e assim a
vida segue. Próximo da fila por favor...
Muita chuva por aqui. Muito alagamento e tudo para cima:
A questão de
limpeza e asseio pessoal é realmente cultural. Isto reflete-se nas fachadas de prédios
e centros comerciais deixam muito a desejar. Nem parece que você esta em frente
a um dos maiores bancos da região, não? E isso eh muito comum por aqui, mesmo
nas grandes cidades.
A limpeza e
conservação das fachadas é muito mal conservada. Eles não se importam muito com
esses detalhes.