Por que "A Família do Futuro"?

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Singapore
O nome do Blog surgiu de uma brincadeira, pois é muito curioso pensar que estaremos fisicamente onze horas à frente de nossa terra natal. Em Singapore, teoricamente, tudo ocorre primeiro que no Brasil. Aqui tentaremos ser cronistas de nós mesmos, interpretando o mundo à nossa volta em palavras simples e diretas. Mostraremos as aventuras de Marco, Ro, Carol, Bernardo, Beatriz e Eduardo em terras distantes. Rev3: Durante o tempo de existência desse blog, esta introdução foi alterada 2 vezes por incremento de novos integrantes.

terça-feira, 29 de maio de 2012

Índia – Nagpur (Rio quarenta graus)


Vocês conhecem aquela música da Fernanda Abreu (que fez parte da extinta Blitz) que diz: “Rio quarenta graus. Cidade maravilha. Purgatório da beleza e do caos. Capital do sangue quente do Brasil Capital do sangue quente...”
Embora eu não goste desse tipo de música, o título, ”Rio 40 Graus”, remete-nos a um típico dia de verão carioca. 40 Graus: quente não? Desconfortável? Para alguns paulistas certamente.
Mas e se eu disser que 40 graus é fichinha...

Eu já escutei colegas daqui que já trabalharam no Oriente Médio, dizerem que é muito comum visitar lugares aonde a temperatura chega por volta dos 50 graus. Eu passei longe disso.
Mas que tal um lugar localizado numa região bem no meio da Índia, onde predomina um clima seco e quente.
Não, aqui não chega a ser um deserto. Ouso dizer que é um mix entre a caatinga e o nosso serrado.
Cá estou trabalhando num cliente, adentrando a primavera – considerada a época mais quente.
Imaginem uma sauna seca, dentro de uma cozinha com um forno de fogão aceso e assando um bolo por longas horas. Adicione isso a um ar seco e sem muito vento. Temperatura? Que tal algo em torno de 46 Graus Celsius?!?!
Isso mesmo. Ontem, no meio da tarde a máxima alcançou 46C. Hoje a máxima foi de 48. Amanhã, estão prevendo 49 (?!?). Não acredita? Veja a foto que tirei:

Adiciona-se a isso estar dentro de um ambiente fabril, próximo a maquinas de médio e grande porte, que utilizam vapor em alta pressão no processo de fabricação.
Posso dizer que nunca havia sentido a sensação de ser cozido vivo, sem tempero. Aliás, se suor pode ser considerado como um tempero, então eu posso considerar que estava preparado para ser servido.
Calma, ainda não acabei. A Índia é muito famosa por ter uma água de péssima qualidade, mesmo sendo potável (tratada). Nas grandes cidades há muitos casos de “gatos” – ligações clandestinas para desviar água. Isso causa uma seria contaminação na água. É muito comum os estrangeiros serem avisados em somente tomar água em mineral, refrigerantes ou coisas enlatadas. Nada de suco natural, frutas ou verduras cruas. Água de bebedor público ou torneira nem pensar. É tão ruim a situação que a gente se vê na obrigação de escovar os dentes com água mineral.
Suando como um porco e sem nada para saciar a sede !!!!
 
Enfim, aquelas expressões populares (queimar o filme, queimar a rosca, fritar o asfalto, etc.) é muito fácil de ser usado por aqui – sem muito esforço.
Definitivamente esta sendo uma experiência única (e quente).

Música:
 Clip

Ou copie e cole o link abaixo:

terça-feira, 22 de maio de 2012

Mamãe na Ásia


No ano passado foi eu agüentei minha sogra durante 4 meses aqui em Singapura.
Agora esta sendo a minha vez de dar o troco na Rosangela: minha mãe veio junto do Brasil para Singapura.

O legal é que foi a primeira viagem internacional da velhinha. O primeiro carimbo no passaporte.
Como o vôo para Singapura é muito longo, para evitar constrangimentos e inconveniências em terceiros e para preservar nossa prole, sempre fazemos um stopover.
Chique não? Fazer um stopover. Dá até para sentir um certo ar de esnobe dizendo essa palavra em inglês. Tirando as frescuras, stopover significa fazer uma parada de alguns dias no meio do caminho. Exemplo: se você for viajar para fora e necessitar fazer uma conexão ou escala, em vez de sair de uma aeronave e já entrar em outra, há a possibilidade de dar uma escapada no local da parada por alguns dias ou semanas, sem custo adicional. Desta vez fizemos nosso stopover em Barcelona.

Tirando o fato e o blábláblá que a cidade é realmente encantadora e maravilhosa, não deixa de ser emocionante e dá um orgulho de oferecer essa oportunidade aos amados pais. É uma experiência muito bacana, e assim como minha querida sogra, podemos considerar que pagamos parte das nossas dividas que temos com elas, afinal foram anos aturando a gente.

Mas, como não poderia deixar de acontecer, seguindo e lema que levava a sério na adolescência: “o importante é causar problemas”. Sacaneamos a velha.

Minha mãe fica muita a vontade ao cuidar da Beatriz. Fácil de entender: ela ainda é um bebê, fica sempre no carrinho, não dá muito trabalho. Diferente do Bernardo e da Carolina que temos que ficar correndo atrás, sempre em alerta, segurando a mão para não se perderem, carregando no colo vez em quando, administrando conflitos, etc, é mais conveniente cuidar da Beatriz.
Entretanto, algumas vezes, de propósito, dávamos um perdido. Deixávamos o Bernardo com a minha mãe, para ela adquirir experiência, e demorávamos em voltar. Resultado: ela nunca se queixou da demora, entretanto, para quem sempre reclamara que tinha insônia, dificuldade ou que demorava a pegar no sono, ela simplesmente desmaiava antes das 9 da noite, e sem parar, despertava depois de 8 a 10 horas de sono.

Esta foto foi tirada depois de um dia intenso no condominio. Sim, a Carolina esta dormindo com a a dela.

Num outro momento entramos num restaurante e o garçom veio tomar o pedido. Sem pestanejar apontei para a minha mãe, como que dizendo “fala com essa senhora aí”. Então o sujeito iniciava a conversa com ela, e ela desesperada, ficava a pedir ajuda e a gente dando uma de “João sem braço”. Quando eu percebi que o garçom começava a ficar mal humorado, aí eu tomava a frente da situação. Aliás, espanhol mal humorado é meio que pleonasmo, não?

Minha mãe é muito desatenta. Vira e mexe ela fica olhando para o nada, e a gente tem que parar e pedir para ela prestar atenção para não se perder. De tanto falar, teve uma hora que eu meio de saco cheio decidi pregar uma peça. Andamos um pouco mais rápido e nos escondemos no meio da multidão de transeuntes, atrás de uma banca de flores. E ficamos observando. Quando ela percebeu que estava sozinha, no centro de Barcelona, sem mapa e sem referencias, ela congelou e começou a procurar pela família. Não sei o que passou pela cabeça dela, mas deu para ver a cara de alivio quando, depois de uns bons minutos, pedimos para a Carolina resgatá-la das trevas.

E para provar parte dos relatos de que ela ainda estava sem ritmo e meio que desacostumada a conviver bastante tempo com crianças, seguem algumas fotos tiradas dela desmaiada no aviao, depois de ficar tentando domar o Bernardo:



 

terça-feira, 15 de maio de 2012

Gestão de Negócios na Ásia


Gosto de fazer comparações.
Uma delas é o de comparar como os empresários gerenciam seus negócios por aqui, principalmente no eixo entre Índia, Tailândia, Malásia e Filipinas.
Tirando as grandes corporações que possuem planos estratégicos e processos implantados, e necessitam seguir seus padrões mundiais (Shell, Nestlé, SKF, Holcin, etc), as empresas locais estão muito longe dos padrões ocidentais.
Mesmo quando comparo a situação das empresas daqui do outro lado do mundo, com as empresas brasileiras e argentinas, vê-se um abismo de muitos anos de diferença em relação a maturidade e ao modo de se gerir o negócio.
Costumo falar que tais empresas estão no mesmo nível das empresas brasileiras da década de 90. Ou seja, ao menos 20 anos atrasados.

Primeiro em relação a mão de obra: aqui não há sindicatos fortes e as empresas se lixam para recursos humanos ou na gestão de pessoas. Simplesmente não se pagam os benefícios e os encargos sociais que temos no mundo ocidental.
Falar que o empresariado brasileiro não é justo e que remunera mal é compreensível, entretanto, a situação por aqui é muito pior.
Nada de auxilio maternidade, nada de horas extras, nada de planos de aposentadoria, nada de uniforme e itens de segurança, etc.
Ahh, não posso esquecer a alta jornada semanal de trabalho, chegando a 50 horas semanais, e dos baixos salários. Quer exemplos: Um engenheiro especialista na Índia recebe cerca de R$ 1.600,00. Na Malásia e Filipinas cerca de R$ 1.000,00. E assim vai...

Segundo: Na questão de gestão de negócios. É muito precário isso aqui. Algumas empresas mal têm computadores para se trabalhar.
Não há local adequado para se fazer manutenção. Não há oficinas de trabalho e bancadas apropriadas. Para que mesas se eles podem trabalhar no chão e sem iluminação?
Sistemas e software de gestão então nem pensar! Qualquer empresa séria necessita de um software de gestão empresarial. Para quem não sabe o que é isso, são aqueles softwares e sistemas robustos e corporativos que integram, na mesma base de dados, as áreas de vendas de produtos, os custos e índices de fabricação, recursos humanos, despesas e custos operacionais, estoques, inventários, controles financeiros, pagamentos, fluxos de caixas, etc.
É impossível você gerenciar uma empresa sem um software que suporte o empresário. Pois bem, aqui na Ásia há um montão delas, que gerenciam tudo isso através de planilhas Excel e papelada.
Não é a toa que se encontra muitos casos de corrupção, desvios de mercadorias, discrepâncias de inventários, etc.

Terceiro: Mesmo assim, não se pode tirar o mérito do empresariado, pois conseguem girar fortunas e lucrar montanhas de dinheiro. Imaginem se eles aumentassem a eficiência e a produtividade?
No final das contas não é muito justo competir contra eles. Comparando-se apenas custos as empresas ocidentais perdem feio em relação à competitividade.
Não é a toa que a cobiça do mundo ocidental mira suas objetivas para cá.

PS: o pessoal daqui me fala que eu deveria abrir um sindicato, pois não consigo aceitar isso muito facilmente.