Por que "A Família do Futuro"?

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Singapore
O nome do Blog surgiu de uma brincadeira, pois é muito curioso pensar que estaremos fisicamente onze horas à frente de nossa terra natal. Em Singapore, teoricamente, tudo ocorre primeiro que no Brasil. Aqui tentaremos ser cronistas de nós mesmos, interpretando o mundo à nossa volta em palavras simples e diretas. Mostraremos as aventuras de Marco, Ro, Carol, Bernardo, Beatriz e Eduardo em terras distantes. Rev3: Durante o tempo de existência desse blog, esta introdução foi alterada 2 vezes por incremento de novos integrantes.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

India - contrastes e desafios

Há semanas atrás estava na Índia novamente. Depois da quinta visita ao local já é possível extrair algumas coisas sobre eles.

Costumo dizer ao pessoal de Singapura que lá é o país onde deveríamos dar maior atenção e foco em novos negócios. Os indianos estão ávidos por novidades. Buscam desesperadamente mudar o status quo.
A economia não para de crescer, o mercado interno é forte e esta em expansão, não é a toa que as multinacionais estão fazendo investimentos e montando novos negócios. Mas nem tudo é um mar de rosas.

Primeiro uma breve introdução: algum tempo atrás assisti a um filme bem medíocre, com o Bruce Willys como protagonista. Era a história onde ele descobre ser um "super herói" com certos poderes. O nome do filme era "Corpo Fechado". O enredo, assim como na cultura coreana, se falava de como os opostos convivem simultaneamente, da dualidade que existe no universo. Coisas antagônicas como a Ação e a Reação; Bem e o Mal; Luz e Escuridão; Homem e a Mulher, etc.
Enfim, qual seria o paralelo sobre esta introdução de dualidade e a Índia?

A Índia possui diversos países dentro dela. São extremos onde se vê de um lado o luxo e requinte, e do outro lado da parede, uma miséria total. São constastes fortes que para quem não esta acostumado, choca.

Fotos: Vista panorâmica do quarto do hotel. É possível ver belos edifícios comerciais e parte da região central da cidade de Kolkata (Calcutá), dividindo espaço com casas mal conservadas e sujas.



Imagino que para quem vive na Europa e América do Norte, ou mesmo Austrália, não deve ser muito fácil uma adaptação.
Mesmo para este tupininquim que escreve, confesso que mesmo as piores partes de São Paulo ou Rio de Janeiro, são melhores que as piores partes das grandes metrópoles indianas.
É difícil de explicar - talvez somente indo lá para realmente entender o que estou falando. O desafio é enorme.


Homem fazendo barba de outra pessoa no meio da calçada.

O país é tão grande como o Brasil. Possui muitos rios, terras boas, agricultura e um extenso litoral voltado ao Oceano Indico. Há boas universidades, excelentes matemáticos e cientistas, é um polo de tecnologia de informação (empresas de software) e help desk. Possui um povo pacífico e acolhedor, entretanto fica difícil lidar e gerenciar problemas da imensa população.
Muitos colegas indianos acham que o senso que estima a população é puro chute. Que ninguém sabe realmente a quantidade. Alguns falam que já existem mais indianos do que chineses, porém nada oficial.
Publicado pelo governo, os indianos giram em torno dos 1,2 bilhões de pessoas. Há estudos de que a Índia irá passar a China em população em algumas décadas, e este é um ponto crucial.

A pobreza predomina na Índia. E quando falo de pobreza me refiro ao que de pior existe na face desse planeta. Comparado aos nossos piores lugares do Nordeste, ou da África. Talvez pior.


Comércio popular de Kolkata.

 Comércio popular de Kolkata - muita gente apinhada nas ruas





  25 de Março?


  Preparando a cebola para o almoço. Um trabalho coletivo em plena manhã.


Eu brinquei com um colega chileno, que também acompanhou esta última visita, sobre o que ele achava da idéia de enviar para lá, todos os empregados que reclamam da comida do refeitório, reclamam do escritório em que trabalham, até mesmo do ônibus ou do trânsito.Todas as vezes que saio de lá agradeço a Deus pelo que tenho e tento parar de ficar reclamando de coisas banais. Realmente choca e transforma sua vida. Mesmo para nós brasileiros que sabemos dos problemas sociais internos, da pobreza da periferia, da falta de investimento em infra-estrutura, lá é pior.




As fotos de cima e de baixo mostram trabalhadores (pedreiros_ esperando por uma chamada de trabalho. Todos (centenas) ficam aguardando a sorte de alguém contratá-los para uma empreitada.
Todos carregam suas respectivas ferramentas.


O país possui 28 estados. Cada um com a sua própria língua ou dialeto. O único ponto em comum seria a língua oficial que é o Hindi (Na verdade não existe uma língua oficial. O país reconhece dezenas de línguas distintas, entretanto, há um consenso no governo de que o Hindi é a língua adotada).
Entretanto, os que conseguem ter acesso a estudo e universidade fazem questão de falar a língua inglesa. Os que falam o inglês é uma restrita parte da população - creio que 2% - antes de eu conhecer a Índia eu imaginava que todos falavam o inglês.

 São diversos prédios cuja arquitetura foi influenciada pela britânica;

 Abaixo: Muita gente não tem onde dormir. Passam a noite nas calçadas ou em locais públicos, como esse: uma estação de trem.



Abaixo eu viajando a trabalho num trem bala indiano (50 km/h no pico).



O que me intrigou foi descobrir o porquê de essa minoria utilizar o inglês e não o Hindi.
A resposta se dá pela divisão das classes sociais. Quem é pobre é pobre. Quem é classe média é classe média. Quem é rico é rico, Quem é milionário é milionário, etc. parece óbvio, mas não é.
Dificilmente eles se misturam. Os casamentos em geral são combinados entre os pais, selando acordos cujo ponto crucial é manter a classe ou tentar uma ascensão social.
Ainda é comum casamentos arranjados ou o uso de dotes.
A cultura indiana não admite que o homem faça gracejos a uma mulher. Lá não existe as expressões: "Vou sair essa noite para xavecar umas minas", "vou convidar a fulana para sair e ver no que vai dar".
Eles são pudicos. Para uma relação se converter em namoro leva um grande e demorado processo, que envolve a família de ambas as partes.
É muito comum, por exemplo, ocorrer casamentos entre amigos de infância. Aquela idéia de sair para uma discoteca e conhecer sua alma gêmea não existe.

Em relação às diferenças sociais, os pobres ficam com os subempregos. São como serviçais e são tratados como. Testemunhei vários momentos de colegas da empresa sendo estúpidos e ignorantes com garçons, recepcionistas, taxistas, etc.
E isso faz parte da cultura, do subconsciente popular. Ninguém reclama, sempre a sorrir.
Tenho certeza que no Brasil isso já seria motivo para iniciar uma discussão ou briga. Somos mais críticos nesse sentido.
Portanto, para concluir esse trecho, falar a língua inglesa é uma maneira de se sobrepor a outras classes sociais e se diferenciar.

Obter títulos, ou dizer o que você estudou, da suas viagens para fora do país, o cargo que você ocupa; tudo isso lhe dá status e abre portas quando se esta iniciando um relacionamento profissional.
Quando as pessoas me apresentam aos colegas ou aos clientes, sempre enfatizam a parte que sou um gerente de Singapura. Pronto, assim já inicio uma conversa num nível de status acima das deles.
Status lhe garante um poder indireto e ao mesmo tempo hierárquico. As pessoas dificilmente irão lhe contradizer, e vão fazer o possível para lhe agradar.

Você reclama do seu salário? Fique sabendo que a diferença em o nosso salário mensal para a de um indiano pode chegar a 5 vezes.
Um engenheiro iniciando a carreira no Brasil tem um salário aproximado de USD 2.000 (creio não estar enganado). Na India, apenas USD400,00. E eles pagam o mesmo percentual de imposto de renda que a gente no Brasil: 27% sobre a fonte.

Assim como nós brasileiros, os indianos adoram ir às compras. Serve como uma válvula de escape e enaltece a vaidade. Como gastar dinheiro é para pouquíssimas pessoas, os que podem, gastam dinheiro em bobagens, que chega a ser cômico - tudo com o objetivo de se diferenciar.
Exemplo: é muito comum indianos viajarem para a Malásia ou Singapura. Lá eles aproveitam para comprar benesses como um ventilador movido a controle remoto sem fio. Tudo em pró de se instalar e propagar para a vizinhança, que a família esta usando um ventilador de controle remoto adquirido em Singapura.
Ou comprar anéis e pulseiras de ouro para exibir na sociedade.
Ainda tem um gerente da empresa que comprou um caneta Mont Blanc e nunca a utiliza. Quando arguido sobre o motivo, ele disse sem pestanejar "Sai fora! Essa caneta é muita cara! Somente penduro-a no bolso para chamar a atenção".

Eles tem problemas seríssimos com água potável. Na semana que estive em Nova Delhi, a capital do país, eu li uma notícia de primeira página do jornal: "Mais de 70% da água potável e tratada da cidade possui problemas de contaminação".
Ou seja, não é frescura da minha parte, mas escovar os dentes somente com água mineral em garrafa. Nada de frutas ou saladas nas refeições. Nada de comida crua. E infelizmente, sou obrigado a confessar que isso gera um preconceito enorme. Mesmo nos lugares onde se dizem confiáveis e limpos, se evita fazer essas coisas.




 Acima flagrei pela manhã um garoto se lavando na calçada.
O uso de uma canequinha é muito comum na Índia.

Água é um item de luxo e não muito potável. Acima flagrei um homem apanhando água para consumo no comércio ambulante.
Abaixo se vê como é feito o abastecimento de água. Neste caso uma barraquinha de sucos e frutas. Tem coragem?


Eles possuem hábitos interessantes como o de comer com mão direita. Sem o uso de talheres. Amassam a comida com os dedos, misturam as partes soltas com um molho qualquer e mandam para dentro. No final usam um potinho com água quente e limão esprimido para limpar os dedos e retirar a gordura da pele e boca. Este procedimento é muito comum em restaurantes de primeira linha.
Não comem carne do jeito que nós estamos acostumados. Aqui não existe churrascaria. Também pudera. Como comer a carne se o boi é um animal sagrado e uma grande parcela da população ser vegetariana?

A comida na India é bem apimentada. Há muitos condimentos e o famoso curry. Tudo aqui leva curry, inclusive o Mc Donnalds tem um BigMac de carne de frango e molho curry. Não fico surpreso de imaginar o porquê dos europeus (principalmente portugueses, ingleses e holandeses) terem instalados entrepostos comerciais na India para revender tais especiarias.


Na Índia eles não gostam de futebol. Eles amam e são fanáticos por Criquet. Sabe aquela brincadeira de criança que a gente jogava no meio da rua? Em São Paulo denominado como "taco"? Pois é, na Índia o criquet é considerado esporte de massa e os jogadores indianos são tratados como pop stars, recebendo salários equivalentes aos dos jogadores de futebol que atuam na Europa.

Enfim, são tantas coisas para descrever que fica difícil condensar em um único post. Certamente esse lugar merece ser visitado e será alvo de mais futuros textos.

Música: Cornershop - Brimful of Asha
http://www.youtube.com/watch?v=lM7H0ooV_o8

Por que essa música: Banda inglesa formada por imigrantes indianos que fez muito sucesso nas ilhas britânicas durante os anos 90. Ainda estão na ativa e são respeitados.
A música não é do meu gosto, mas segue o link só para demonstrar como a imigração indiana é forte e já possui influência na música e culinária.

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