Negócios na Ásia II

Estive semanas atrás num cliente para desenvolver um projeto.

O cliente é um grande fabricante de bebidas na região e possui como carro chefe um tipo de refrigerante sem gás, adicionado com polpa natural de frutas – uma espécie de Fanta Laranja com suco natural.

No meio das reuniões era muito comum eles nos trazerem garrafas desse “suco” para matarmos a sede. Foi então que observei que a polpa do suco tinha uma consistência interressante e saborosa.

Quando você espreme um suco de laranja na sua casa, no meio da parte líquida, encontram-se pequenos pedaços da laranja. Tais pedacinhos nada mais são do que pequenos saquinhos (bolsas) do sumo da laranja.

Observando uma laranja cortada ao meio, intacta, percebe-se que o miolo que costumamos comer, é formado por uma serie de pequenos gomos ou mini-bolsas. Se você conseguir pegar apenas uma dessas bolinhas e apertar, verá que no interior dela, haverá o sumo da laranja.

Quando tomamos o suco de laranja espremido, essas bolsinhas já estão estouradas, e você acaba sentindo o famoso bagaço da fruta.

O segredo deles é o de extrair esses gominhos da fruta, sem deixá-los estourar.

Entretanto, ao perguntar como era o processo de extração, tomei um susto ao saber dos detalhes. Foi então que escutei:

– O processo é inteiramente manual.

– Como é que é? – Eu insisti.

– As frutas são cortadas e despejadas em grandes bandejas. Uma multidão de trabalhadores seleciona os gomos manualmente e os colocam num outro vasilhame especial. Então ele é resfriado, embalado e transportado para esta fábrica.

– Quantas pessoas fazem isso? – Eu perguntei.

– E quem se importa? Estamos fazendo um favor aos chineses. Estamos gerando emprego (???) – falou com convicção.

Fiquei calado e pensando em tudo aquilo que acabara de escutar.

A primeira coisa que me veio na cabeça foi em pensar num monte de gente fazendo o trabalho duro, recebendo menos de 100USD mensais, com jornadas de trabalho que ultrapassam 10 horas por dia.

Isto é o capitalismo selvagem. Isso é adicionar valor na mercadoria. E quem patrocina tudo isso somos nós mesmos.